O aspecto tecnológico da medicina tem avançado a um ritmo impressionante, em grande parte devido à fragmentação da ciência em especialidades. Isso não é novidade para ninguém. No entanto, em meio a todo este avanço, um importante aspecto da atenção em saúde tem sido relegado ao segundo plano ou mesmo ignorado completamente: a humanização no atendimento a saúde.

É inegável que os avanços tecnológicos são importantes na medicina, pois permitiram maior eficácia  para gerenciar sua clínica ou hospital, permitindo armazenar e acessar informações com maior agilidade, como prontuários, histórico e exames dos pacientes  simultaneamente. Além de permitirem agendar consultas e confirmar horários com maior facilidade.

No entanto, esses avanços contribuem para a construção de uma visão estritamente biomédica sobre o paciente e a doença, esta vista como um simples desvio das variáveis biológico em relação aquilo considerado como normal.

Portanto, para alcançarmos a humanização no atendimento a saúde, existem várias variáveis importantes que devem ser levadas em consideração, como o aspecto cultural, psicológico, social, de vivência, e mesmo a comunicação verbal e não verbal. Mas quais as práticas que permitem chegar a um atendimento desta natureza, que verdadeiramente melhore a relação médico/paciente? É o que iremos descobrir na sequência .

Pluralidades e subjetividade

O primeiro passo que deve ser feito rumo à humanização para melhorar a relação médico/paciente está em aceitar o fato de que, apesar dos olhares dos profissionais para o paciente serem múltiplos, os objetivos devem ser os mesmos, sempre pautados na subjetividade do paciente.

Pautar-se na subjetividade do paciente significa estar ciente do fato de que não há neutralidade nas relações humanas. Por isso, o médico ou outro profissional da saúde tem que se identificar da forma mais natural e espontânea possível, estabelecendo um diálogo (falar e escutar) sincero com o paciente ou com seu acompanhante – caso o paciente não esteja em condições.

É muito importante cumprir os protocolos desta etapa inicial, o que inclui escutar o paciente, esclarecer todas as eventuais dúvidas que ele possa ter e prestar esclarecimento sobre os demais profissionais envolvidos em seu processo de reabilitação.

Cultura Institucional

Apesar dos profissionais em saúde serem atores-chave para o desenvolvimento da humanização do atendimento à saúde, de nada adiante seus esforços se a instituição hospitalar não contar com uma cultura que realmente dê destaque à humanização.

A cultura institucional é composta pelas dimensões afetivas (sentimento e emoções dentre as pessoas e das pessoas para a instituição), a dimensão institucional (normas de relacionamento, funcionamento, conhecimentos e habilidades) e a dimensão tecnológica (procedimentos e materiais). Dessa maneira, a humanização só é efetiva se estiver embutida nesta cultural organizacional.

Como implementar políticas para obter a humanização no atendimento a saúde?

A humanização no atendimento vem recebendo importância crescente nos dias atuais, pois ela resgata o papel fundamental do profissional de saúde empenhado em atender às necessidades do paciente como um todo, e não apenas em descobrir seu diagnóstico clínico.

Lembre-se de que o atendimento é muito mais do que aquele prestado pela equipe médica. O primeiro contato com a clínica e a forma como o paciente é recebido pela equipe são fundamentais para o início de uma relação mais humanizada. A recepção, os profissionais de limpeza e conservação, os gestores, todos fazem parte da instituição e, consequentemente, da cultura organizacional da clínica.

A seguir, mostraremos algumas das principais medidas que podem ser implementadas no intuito de tornar o atendimento à saúde mais humanizado.

Comunicação médico/paciente

Construir uma boa comunicação com o paciente, por meio de atendimento personalizado. Chamar o paciente pelo nome, cumprimentá-lo com um aperto de mãos, não omitir informações e demonstrar empatia são pequenas atitudes que permitem construir um vínculo entre médico e paciente.

Avaliar o paciente em seus vários aspectos

Inicialmente, é preciso proporcionar ao paciente um atendimento que vá além de seu diagnóstico. Isso implica em ver um paciente como um todo, seu bem-estar psicossocial e as condições humanas que interferem na sua qualidade de vida.

Dar atenção às queixas emocionais dos pacientes, pois, na maior parte das vezes, elas estão diretamente relacionadas com seus sintomas clínicos.

Transmitir informações com clareza

Transmitir as informações sobre o quadro clínico com clareza, explicando os detalhes sobre a doença, os possíveis tratamentos e a importância de segui-los, além do prognóstico esperado para o caso em questão. Também é importante estar disponível para responder todas as dúvidas e anseios do paciente, de forma que não lhe restem dúvidas.

Certificar-se de que o paciente compreendeu todas as prescrições

Repassar com o paciente todas as prescrições é fundamental para garantir que o paciente fará o uso correto da medicação. É comum que pacientes não se sintam à vontade para questionar o tratamento ao fim da consulta e acabam por fazer uso incorreto da medicação, o que irá acarretar prejuízos ao tratamento.

Discutir com o paciente as orientações, ao invés de somente prescrevê-las. Avaliar, junto a ele,  as possíveis mudanças de alguns hábitos ou as condições para iniciar uma nova dieta e adaptação da rotina. Isso contribui para que o paciente se comprometa mais com o tratamento.

Qualificar sua equipe

Capacitar sua equipe para que seja atenciosa, prestativa e preze pelos cuidados com os pacientes. Além de oferecer um sistema de gestão eficaz para armazenar e acessar informações dos seus pacientes e facilitar o agendamento das consultas.

Consultas domiciliares

Avaliar a possibilidade de atendimentos domiciliares. Além de proporcionar maior conforto aos pacientes, principalmente aqueles com restrições físicas, o profissional pode presenciar a rotina e ambiente familiar, fatores que influenciam no quadro clínico.

Algumas ferramentas são importantes pois servem como base para a implementação do atendimento humanizado e, quando implementadas, atuam como indicadores da qualidade dos programas de humanização. Dentre elas, destacam-se pesquisas de satisfação do usuário, de clima institucional, de fatores psicossociais do trabalho etc.

Benefícios da humanização do atendimento a saúde

Enxergar a subjetividade do indivíduo e promover mudanças na cultura organização da instituição de saúde são extremamente importantes para implementar a humanização no atendimento à saúde de forma efetiva e melhorar a relação médico/paciente. Com estas (e outras) atitudes, é possível obter inúmeros benefícios, que serão explicados a seguir.

Maior adesão ao tratamento

Em muitos casos, a adesão ao tratamento é bastante difícil. Com a humanização no atendimento à saúde, o paciente se sente confiante no trabalho da equipe. Isso faz com que ele esteja mais propenso a ouvir e seguir o que lhe é recomendado, facilitando a adesão ao tratamento.

Fidelização dos pacientes

A humanização é capaz de diminuir a ansiedade e temores do indivíduo. Assim, com a clínica se preocupando com este aspecto, o nível de bem-estar do paciente aumentará, refletindo diretamente na imagem que ele tem da clínica na qual está sendo tratado.

Isso abre caminho para o processo de fidelização à instituição e de recomendação dos serviços da clínica a terceiros devido à excelência do atendimento.

Evolução no quadro clínico

A OMS define a saúde como completo bem-estar físico, mental e emocional. Assim, a humanização é extremamente importante ao último aspecto, pois, atualmente, já se sabe que alterações de ordem emocional afetam o aspecto fisiológico. Isso significa que um maior acolhimento emocional terá reflexos extremamente positivos na evolução do quadro clínico do paciente.

Além desses benefícios acima citados, a implantação das políticas para humanização do atendimento tendem a construir uma relação entre médico paciente baseada em confiança e empatia. Isso também favorece toda a equipe, proporcionando otimização e maior eficiência dos serviços prestados!

O principal desafio dos serviços médicos atuais está na melhoria da qualidade dos atendimentos prestados. Enquanto, por um lado, as tecnologias evoluíram consideravelmente no intuito de promover maior agilidade e eficácia dos serviços, por outro, não foram eficazes em promover o avanço na humanização do atendimento a saúde.

A atenção para a essência humana permanece em segundo plano, e a maioria dos profissionais tende a considerar apenas o aspecto técnico. A principal consequência dessa atitude é que a medicina tende a se limitar somente à cura, desconsiderando aspectos relativos às necessidades psíquico-sociais inerentes a todo ser humano.

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